Clínica Psiquiátrica - Guia Prático - Impresso
EditoresEduardo de Castro Humes, Flavia Cardoso, Flávio Guimarães-Fernandes, Lucas de Oliveira Serra Hortêncio, Euripedes Constantino Miguel

Redes sociais espalham 'epidemia de mal-estar' pela humanidade, diz psicanalista. Leia aqui
Como salvar um bebê engasgado | Manobra de Heimlich | SBV | Medicina Geral

05/10/2018 - Marcelo Rabahi lança o livro “A meta da humanização: do atendimento à gestão na saúde”
Salto para o Futuro
Debate sobre a importância de pais e educadores ficarem alertas sobre os sinais que muitos jovens apresentam antes de atentarem contra a própria vida. Além de ser exibido todas as quartas-feiras, às 20h, o programa também pode ser assistido em tempo real no portal da TV Escola e no canal da emissora no YouTube, bem como pelo aplicativo.
Assessoria de Comunicação Social - http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/42861

Sintomas de depressão: por que a versão atípica da doença é tão perigosa
Chamada clinicamente de depressão atípica, ela é difícil de identificar exatamente porque os sintomas estão frequentemente mascarados por falsas demonstrações de felicidade. G1 - Ciência e Saúde
Veja aqui
Veja aqui : meu cérebro
Conflito entre colegas médicos, como resolvê-los?
Por CRISTINA MARCIA SORIANO VELOSO ANDREACCI
Academia Médica.com.br
Palavras aos calouros
Os calouros entram na faculdade com espectativas e emocões diversas: alegria , alívio e orgulho por ter passado num vestibular tão concorrido.
Este momento mágico logo é pertubado por uma realidade que ele não imaginava tão difícil: ambiente completamente diferente do ensino médio, Conteúdo imenso, a pouca receptividade , na maioriadas vezes ,por parte veteranos,
Agravado ainda pelo fato, que pelo SISU, grande parte está longe da famíla , muitas vezes morando sozinho, tendo que assumir responsabilidades que antes, na maoria das vezes não fazia parte do seu dia a dia: supermercado, roupas lavadas e passadas, pagamentos, limpeza , etc.
Este conjunto de fatos, tem provocado um índice grande de depressão no meio dos estudantes de medicina, com alguns desfechos fatais. O artigo abaixo, dá algumas sugestões para quem está iniciando o curso que poderá ajudar para que o calouro não passe a fazer parte desta estatística .
Veja no http://guiadoestudantedemedicina.blogspot.com.br/
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O que é justiça? - Flavio Paranhos
15/09/2013
Já na primeira aula de bioética para calouros de Medicina, escrevo grande no quadro “Eu não presto”, e peço pra turma ler alto. Meu objetivo é lembrar-lhes de que nada há de mais vazio do que bater no peito e dizer que agiu de acordo com sua consciência. Quem é o juiz de minha consciência? Eu mesmo. E eu rumino a culpa até transformá-la em perdão. Abundam evidências científicas a respeito, assim como exemplos maravilhosos nas artes (Crimes e pecados, de Woody Allen, e O enfermeiro, de Machado de Assis, pra ficar só com dois).
O próximo passo é apresentar à garotada, recém saída do vestibular e louca pra dissecar cadáveres, os dois primeiros livros da República de Platão. Do primeiro, retiramos a iluminada e dolorosa verdade acerca do que é justiça, pela boca de Trasímaco: “Afirmo que a justiça não é outra coisa senão a conveniência do mais forte. (...) Só há um modelo de justiça em todos os Estados – o que convém aos poderes constituídos. Ora, estes é que detêm a força. De onde resulta que a justiça é a mesma em toda parte: a conveniência do mais forte.”
Do segundo, a estorinha do anel de Giges (que serviu de inspiração à lenda germânica usada por Wagner e sua ópera Os Nibelungos, assim como a Tolkien e seu Senhor dos Anéis), contada por Gláucon para dar suporte a sua própria teoria: ninguém é justo por vontade, mas é coagido. Deve-se parecer justo, granjeando para si esta fama, mesmo ao cometer as maiores injustiças, “e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar, por ser suficientemente hábil a falar, para persuadir; e se for denunciado algum de seus crimes, que exerça a violência nos casos em que ela for necessária, por meio de sua coragem e força, ou pelos amigos e riquezas que tenha granjeado.”
No momento em que escrevo esse artigo, o placar no STF para o julgamento do mensalão está empatado em 5 a 5, falta um voto que, tudo indica, será pró-mensaleiros. Mas ainda que não seja, e os mensaleiros não escapem, os cinco votos dados a eles são ilustrativos do que “dizem” Trasímaco e Gláucon. O poder executivo, ocupado pelo partido mais interessado em que os mensaleiros escapem, em cumplicidade com o poder judiciário, executando a justiça como ela é – a conveniência do mais forte.
Não estou dizendo que há uma ação deliberada ou uma cumplicidade consciente. Pode haver ou não. Pode ser subconsciente (gratidão, por exemplo). Não é isso que importa. O que importa é que estão sendo desprezadas evidências abundantes da ação dos acusados em favor de um julgamento de “consciência” que lança mão de labirintos de regras internas para se justificar.
E isso é exatamente o que pretendo mostrar aos meus alunos. Que eles sempre desconfiem de suas consciências. O juiz da ação do médico é a evidência científica. E o juiz do juiz deveria ser a evidência factual.
Flávio Paranhos é médico doutor (UFMG) e research fellow (Harvard) em Oftalmologia, mestre (UFG) e visiting fellow (Tufts) em Filosofia, professor da PUC-GO
Publicado em O Popular
Pesquisa USP - Projeto Veras - leia artigo completo
.http://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/05/30/estudantes-de-medicina-sofrem-de-ansiedade-e-depressão/
Em paralelo às pesquisas que detectam os sintomas e medem as prevalências dos problemas de saúde mental nos estudantes, a doutora Patrícia Tempski destaca os fatores protetores importantes para a saúde deles, comprovados por outros estudos do grupo. Ela destaca cinco principais: dormir, foi percebido em vários estudos que mais de 50% deles estão com privação de sono, ou seja, tem índices patológicos de sonolência diurna; falta de tempo, um dos maiores problemas, já que os alunos não conseguem realizar outras atividades, nem mesmo estudar para assimilar os conteúdos, devido a imensa grade horária, treiná-los para gerenciar melhor o tempo também é importante; praticar atividade física, não precisa nem ser intensa, uma atividade física moderada já assegura uma melhor qualidade de vida e saúde mental e física; ter supervisão dentro das práticas do curso, não ficar sozinho e desenvolver uma relação de suporte, um vínculo de confiança com colegas, com algum professor, profissionais do serviço de suporte da escola ou tutor, que ofereça essa ajuda e, por último mas não menos essencial, desenvolver resiliência — competência enfrentar adversidades, resistir à pressão, superar obstáculos e adaptar-se a mudanças —, tanto individual quanto institucional.
Segundo a pesquisadora, os resultados do Projeto VERAS oferecem evidências nacionais sobre a qualidade de vida, competências emocionais, ambiente de ensino e saúde dos estudantes de medicina. Mas estudos que permitam estabelecer relações de causalidade, assim como propostas de intervenção concretas, ainda precisam ser desenvolvidos. O adoecimento dos alunos durante a formação médica é complexo e cabe a toda comunidade acadêmica tentar soluciona-lo.

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
O grupo reflexivo socio dramático teve como objetivo central trabalhar os conflitos acadêmicos dos estudantes de Medicina, considerando que esses problemas enfrentados no decorrer da formação médica não podem ser analisados isoladamente.
Eles estão inseridos num contexto que tem por um lado o aluno, sua história e crenças pessoais, e, por outro, a instituição educacional,
também com sua cultura, sua história, além de toda a sociedade, com conceitos cristalizados e estereótipos construídos
acerca da profissão médica.
Assim, o role-playing representou um modo de resgate da espontaneidade e buscou, de certa forma, o
desenvolvimento de um “grupo em fusão”, que seria o que se constitui numa relação de interioridade11,20..
Entendemos que a prática reflexiva, ancorada em referenciais que permitam a expressão da espontaneidade, pode promover
mudanças nas representações que os indivíduos possuem sobre seus papéis sociais vividos em contextos educacionais.
No entanto, sabemos o quanto pode ser difícil a mudança brusca, o rompimento de conceitos cristalizados, enraizados nos indivíduos
e, muitas vezes, reforçados pela sociedade.
Acreditamos que mediante a atividade reflexiva desenvolvida com os estudantes de Medicina pudemos iniciar, com este estudo, um processo
de sensibilização para modelos de estratégias dessa natureza, que visem a um melhor amadurecimento e reflexão crítica
sobre o desenvolvimento do papel profissional do futuro médico.
Assim, a nosso ver, do presente estudo podemos retirar as seguintes sugestões e implicações educacionais:
_ Instituir e aprimorar atividades formativas reflexivas no ensino de graduação que visem, sobretudo, promover um contato maior
entre os alunos ingressantes no curso médico com seus professores e/ou médicos, assim como com os veteranos;
_ Considerar a importância fundamental dos serviços de apoio ao estudante universitário na tarefa de auxiliar a instituição,
mais especificamente os órgãos que se preocupam com o ensino de graduação.
O estudo aqui apresentado traz indicações, tendências, que, muito embora não possam ser generalizadas para um contexto
maior, devido à limitação da amostra, trazem contribuições complementares a outros estudos já realizados que indicam dificuldades
similares desse contexto acadêmico.
Acreditamos numa “parceria” entre a instituição, os serviços de apoio e seus órgãos colegiados responsáveis pelo ensino de graduação que possa levar ao aperfeiçoamento almejado por todos para o curso
médico.
.http://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/05/30/estudantes-de-medicina-sofrem-de-ansiedade-e-depressão/
Alunos da Universidade de São Paulo (USP) se mobilizaram
Alunos da Universidade de São Paulo (USP) se mobilizaram para demonstrar empatia depois do registro de tentativas de suicídio de seis estudantes do quarto ano de Medicina da Universidade, somente neste ano. Os jovens pintaram uma das paredes da faculdade com a expressão “Estamos Juntos”, reforçando o suporte à manutenção da saúde mental dos frequentadores.
Nas redes sociais, as publicações com a frase “Dor compartilhada é dor amenizada” são a prova de que, quando se trata de depressão, transtornos psicológicos e/ou emocionais e pensamentos suicidas, o apoio e a possibilidade de conversar sobre os sentimentos são ajudas fundamentais.
Pressão acadêmica: vulnerabilidade dos jovens
Disputas “infantis” por notas, pressão para cumprir a rotina acadêmica e excesso de atividades ligadas à faculdade são alguns dos elementos destacados pelos alunos entrevistados pelo jornal Folha de S. Paulo, sob a condição de anonimato, que podem explicar a vulnerabilidade destes jovens. Eles avaliaram, segundo o jornal, que a Medicina da USP está vivendo um "surto de suicídios".
“Além do cansaço mental, da desumanização cotidiana, temos que ter a cabeça tranquila para estudar doença”, acrescentou um dos entrevistados à Folha.
Os alunos ainda falam sobre a formação de ‘panelinhas’ durante o estágio obrigatório, o que gera estresse para aqueles que não conseguem integrar um grupo, fortalecendo o sentimento de exclusão.
A saúde mental dos estudantes também é colocada de escanteio, segundo os relatos à Folha, no sistema de faltas às aulas. “As notas de conceito, quase 50% da nota final, são multiplicadas pela frequência. Se o aluno está deprimido, não consegue ir às aulas”.
De acordo com a Folha, profissionais do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria (IPq) da própria Universidade alertam sobre os problemas enfrentados pelos alunos.
"Esgotamento, ansiedade, depressão, internações psiquiátricas, tentativas de suicídio, mortes. Os relatos nos parecem crescentes em frequência e intensidade, e soam como um pedido de ajuda."
O que diz a faculdade
À Folha, a USP explicou que há um grupo de apoio a alunos com dificuldades e, depois das tentativas de suicídio, outro se formou para atendimento psicológico individualizado. Além disso, a Faculdade de Medicina da USP criou uma linha telefônica para alunos, 24 horas por dia.
O professor de psiquiatria Francisco Lotufo Neto explicou ao jornal que a nova grade curricular do curso, implantada em 2015, disponibiliza mais tempo livre aos alunos e que o atual quarto ano ainda segue a grade antiga.
Neto ainda justificou que houve uma proposta da direção de adotar sorteios na formação dos grupos, para evitar as tais 'panelinhas' que dão margem a exclusões, porém a maioria dos alunos não aprovou a ideia.
Em qualquer espaço de convívio e nos grupos sociais que frequentamos em nossa vida cotidiana, é fundamental conversar e compartilhar informação para entender o que leva alguém a cometer o suicídio. Antes de tudo, é preciso reconhecer que o suicídio é uma atitude extrema, causada por um transtorno grave psíquico e/ou emocional.
“O suicídio é o último dos sintomas de um quadro gravíssimo que abala todo o pensamento, assim como o infarto é o último sintoma de uma doença cardíaca não diagnosticada”, explicou a psiquiatra Maria Cristina De Stefano em entrevista ao Vix sobre o assunto
.
Mais um dado importante: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio já é a segunda causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no mundo, atrás somente de acidentes de trânsito. Pais, professores, colegas de trabalho e amigos devem ficar alertas às mudanças de conduta de pessoas desta faixa etária.
Para demonstrar empatia depois do registro de tentativas de suicídio de seis estudantes do quarto ano de Medicina da Universidade, somente neste ano. Os jovens pintaram uma das paredes da faculdade com a expressão “Estamos Juntos”, reforçando o suporte à manutenção da saúde mental dos frequentadores.
Nas redes sociais, as publicações com a frase “Dor compartilhada é dor amenizada” são a prova de que, quando se trata de depressão, transtornos psicológicos e/ou emocionais e pensamentos suicidas, o apoio e a possibilidade de conversar sobre os sentimentos são ajudas fundamentais.
Desempenho x risco
Paradoxalmente, o desempenho acadêmico é apontado como uma das principais causas para depressão e suicídio entre estudantes do curso: quanto melhor o desempenho do aluno, maior o risco de suicídio, aponta estudo realizado pela pesquisadora Alexandrina Meleiro, que integra a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
“Pessoas com um traço de personalidade mais perfeccionista ou obsessivo têm uma tendência a serem alunos extremamente dedicados e intolerantes ao erro. Na maior parte das vezes essas pessoas gastam muito tempo e energia com os estudos, abdicando de outras áreas importantes da vida.
A frustração frequente, a ansiedade, a falta de atividades de lazer são gatilhos para o surgimento de algum quadro de doença psiquiátrica”, explica Sarah Rückl, psiquiatra e doutora em Medicina pela Universidade de Heidelberg. “São jovens ensinados e cobrados para não errarem, não terem dúvidas, não se mostrarem frágeis. Se eles não podem errar, não podem se mostrar frágeis, então também não buscarão auxílio.
É um ambiente onde não há autorização para sofrer”, completa Josiane Knaut, mestre em Psicologia e professora dos cursos de Psicologia e Medicina da Universidade Positivo (UP).
Neste contexto, os estudantes, ao perceberem que sua concepção de profissional perfeito, com erro zero, é impossível, podem ter um pensamento dicotômico. “Se eu não for perfeito, quer dizer que serei um péssimo médico. Essa visão negativa em relação ao seu futuro profissional também contribui para esse risco maior”, diz Sarah. Para ela, quando sintomas como ansiedade e depressão estão presentes, existe um grande prejuízo funcional e pessoal – e no meio médico ainda há muito preconceito contra diagnósticos psiquiátricos.
Além disso, muitas vezes médicos têm uma tendência de se automedicar e evitar procurar ajuda. Além do glamour Para Marcelo Daudt von der Heyde, professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), é inegável que a graduação exige um aprendizado intenso em um curto período de tempo; dessa forma, as consequências afetam de modo importante a qualidade de vida desses estudantes. Heyde aponta outro fator importante: a hierarquia presente na escola de medicina. No ambiente acadêmico, ao invés de haver cooperação, estudantes são constantemente humilhados por aqueles em posição superior. “Na hierarquia, o estudante de medicina está na posição mais inferior.
A mistura de todos esses fatores faz com que ele adoeça e tente o suicídio”. Um estudo realizado pelo médico e pesquisador Douglas Mata, clínico geral no Brigham and Women’s Hospital, nos EUA, reuniu dados sobre o índice de depressão entre estudantes de medicina no mundo desde o começo da década de 1970 e revela que os números se mantêm altos, sem sinais de declínio. Mata afirma ainda que os alunos dos cursos de medicina entram na universidade com saúde mental melhor do que os colegas de outras licenciaturas.
Mas ao longo da vida acadêmica a incidência de depressão aumenta, muito devido ao contato com situações clínicas traumáticas. “O currículo foca no aprendizado voltado para a doença e para o doente. Aprende-se sobre o processo da doença e da morte do ponto de vista biológico, mas o processo subjetivo pelo qual passam doente, familiares e o próprio médico não é abordado”, diz Heyde. “Ao se deparar com o sofrimento e a vulnerabilidade, posso me dar conta da minha fragilidade. Esse processo precisa ser trabalhado, até mesmo para termos médicos mais humanizados, uma vez que as defesas psíquicas utilizadas por muitos estudantes podem incluir desde um relacionamento distante e pouco empático com o doente até mesmo abuso de substâncias e consequente adoecimento mental”. Estudantes x Universidade
Alunos também apontam a exigência do currículo e a atmosfera de alta pressão como maiores fatores de desgaste para a saúde mental; para eles, as maiores dificuldades se concentram a partir da metade curso, fase onde os problemas são agravados. “Estamos mais próximos da formatura e já não há mais aquela idealização da profissão que existia quando entramos na faculdade”, diz um estudante, que pediu para não ser identificado. “Não temos tempo para nada, além de disputas
O que é felicidade?
Publicado em: Externas • Notícias - 11 de setembro de 2018
Em entrevista, professora da Faculdade de Medicina explica o que é felicidade e como ela se relaciona com o contexto no qual vivemos
Carol Prado*
No mês que alerta para a prevenção do suicídio, é natural que se fale sobre sofrimentos psíquicos como a depressão, que podem levar ao autoextermínio. A intenção, além de boa, é necessária para informar e orientar quanto às formas de prevenção a esses sofrimentos mentais. No entanto, a professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão, propõe um olhar diferente para o Setembro Amarelo: por que não falar sobre a felicidade? Para trazer o tema à Faculdade de Medicina, ela concedeu entrevista na qual aborda alguns conceitos sobre a felicidade e fala sobre como estar mais próximo de alcançá-la. Confira a seguir:
O que é a felicidade?
Existem vários conceitos de felicidade. O mais prático seria a ausência do sofrimento. Mas, eu gosto de duas vertentes éticas sobre a felicidade. Uma é a vertente hedonista, que enxerga a felicidade como prazer momentâneo muito forte e imediato. E existe uma outra vertente que é a da ética nicomaqueia, na qual foi baseada em um livro que Aristóteles escreveu para o próprio filho, falando sobre ética. Para ele, o conceito de felicidade é algo construído. É impossível, por exemplo, você ser feliz se a sua família não é, se as pessoas que estão ao seu redor não estão felizes. São dois conceitos extremamente diferentes. Há um grupo que acha que a felicidade está no prazer, no uso imediato. Hoje a gente até pode pensar na questão de recompensa cerebral. E outro grupo que fala sobre a felicidade ser algo construído, que é o que eu acredito. Em geral, eu penso no conceito de felicidade mais como uma construção a longo prazo. Sugiro que todos leiam o livro Ética a Nicômaco*, de Aristóteles. A obra é um tratado sobre a felicidade. É um conselho que eu daria também para os meus filhos e alunos.
A felicidade tem relação com o estilo de vida?
Tem muita relação. Tem se relacionado, inclusive, ao lugar arquitetônico no qual vivemos. Um artigo de um escritório suíço, que se chama Future Directions for Architecture in Mental Health, mostra como a volta dos espaços verdes, da natureza e a solidariedade, fazem diferença na saúde mental. De acordo com esse conceito arquitetônico, ficamos mais felizes nesses espaços do que em lugares fechados, sem contato com o verde, por exemplo. Outro ponto importante para a facilidade é o vínculo afetivo. Amigos que você pode telefonar em um dia de sofrimento e contar com esse apoio. São poucas amizades que temos na vida. Muitas vezes, podemos contá-las nos dedos. Mas elas são importantíssimas como um suporte social. Quando você está naquele momento difícil, saber que pode procurar determinada pessoa e ela vai te receber e dar um suporte mesmo, é muito importante. Eu, particularmente, acho difícil uma pessoa ser feliz se ela não tiver uma amizade, esse suporte.
E a família, ela é importante para ser feliz?
A família também é importante. Hoje, elas estão mudando muito. Não significa que tem que ser aquele modelo de família tradicional de 1950, né? Mas é extremamente importante ter um grupo de conviva e que tenha um objetivo comum na busca de bem-estar.
Para buscar a felicidade é preciso se conhecer?
O autoconhecimento é uma faca de dois gumes. Eu acredito que uma pessoa que não se conheça, dificilmente vai ser feliz. Isso porque ela não vai saber o que realmente aprecia. Com isso, ela vai tentar buscar aquilo que os outros apreciam. Uma pessoa que aprecia algo que é simples, que admira uma vida de interior, de fazenda, por exemplo, quando passa a ter uma vida muito diferente daquela, sem se conhecer muito bem, não vai conseguir ser feliz. Ao mesmo tempo, o autoconhecimento pode levar a duas situações. Uma delas, mais positiva, é fazer o melhor possível para tentar ser feliz, assim como fazer feliz quem está ao seu lado. Esse é o tipo de felicidade que eu acredito. Outra situação, mais negativa, é a pessoa ser extremamente narcísica e egoísta. Nesse caso, a pessoa que se conhecer bem talvez terá mais dificuldade para ser feliz.
O que é preciso para ser feliz?
Há alguns estudos na UFMG, como o da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), em que os pesquisadores perceberam que existem algumas condições mínimas, em termos econômicos, para ser feliz. Precisamos, por exemplo, de um local adequado para viver, de uma cidade agradável, acesso à saúde e a várias comodidades. Temos que ter o mínimo para ser feliz, mas à medida que atingimos um patamar, por mais rico que sejamos, não teremos mais esse sentimento associado às questões econômicas. Dizer que o dinheiro em si traz felicidade é uma inverdade. Condições boas de vida, como ter onde morar, uma cidade não violenta, esse mínimo, nós precisamos para encontrar a felicidade. Por outro lado, pesquisas da Universidade da Califórnia que se dedicam a estudar a felicidade e estilos de vida ligados a ela, destacam a simplicidade como forma de alcançar a felicidade. A simplicidade da qual falam, seria o consumo apenas daquilo que é necessário.
*Ética a Nicômaco
O livro Ética a Nicômaco, escrito por Aristóteles por volta de 300 a.C, defende que a felicidade é o maior bem desejado pelos homens e a finalidade de suas ações. Entretanto, ela não é reconhecida da mesma forma por todas as pessoas. De acordo com o livro, os sábios entendem que a felicidade é um fim em si mesma, e outros como “alguma coisa simples e óbvia, como o prazer, a riqueza ou as honras” (Aristóteles, 1973, p.251). Aristóteles, ao perceber o não consenso a respeito do conceito de felicidade, identificou três modos de vida: a guiada pelo prazer, a política e a contemplativa.
Na vida guiada pelo prazer, pensa-se que o bem e a felicidade são sinônimos de satisfação de impulsos, assim como para os outros animais.
Na vida política, se busca por honrarias e grandes feitos, como se a felicidade dependesse do olhar do outro. Na contemplativa, a mais elevada segundo o autor, se busca o bem por ser um bem, e não por querer outra coisa a partir dele.
Assim, as pessoas são orientadas pelo exercício da razão.
*Redação: Carol Prado – estagiária de Jornalismo